domingo, janeiro 17, 2010

BiChanos

A união homossexual já está no papel. Era impossível reprimir a vontade do arco-íris durante muito mais tempo. E os sinais eram mais que evidentes. Pegando no futebol, sempre houve comemorações demasiado exuberantes (isto é para ti, André, que apalpaste o Jorge Couto sem pudor em Alvalade) e beijinhos por dá-cá-aquela-palha entre homens musculados, algo que nunca levantou grande celeuma (“ah, eles estão muito contentes”, desculpava-se). Portanto, o futebol, nestas manifestações ocasionais, acabou por ser uma montra de grande visibilidade para a propaganda gay.
Tomai como exemplo a gravura supra – uma amostra do Benfica vintage de 1999/2000, já lá vão 10 anos. Vintage sim, porque de uma só penada juntaram-se ícones da estirpe de Bossio, Sérgio Nunes, José Soares, Okunowo, Uribe, Tote e, claro, Chano, só para não ser exaustivo, já que podíamos passar meses a compilar enciclopédias em torno dos nomes deste plantel.
Dissipadas as subtilezas, esta foto é devastadoramente icónica. Um instantâneo pleno de oportunidade, captando um casamento perfeito a três entre os jogadores em causa, o espaço e o tempo, que podem ser ou não do mesmo sexo (cá para mim, o tempo e o espaço são hermafroditas, embora sejam muito polivalentes dentro das quatro linhas). Só por mera distracção esta gravura não está exposta numa dessas casas do Bairro Alto, ao lado de um pictograma do Ronaldo em tronco nu. Aqui está uma barreira constituída por personalidades marcantes, na qual o preconceito só podia esbarrar com estrondo.

De Machairidis, o relâmpago grego que faiscou pelas bandas da Luz, dizia-se à boca cheia pelo terceiro anal, perdão, anel, que possuía tendências capazes de fazer corar o próprio deputado Miguel Vale de Almeida nas suas delirantes festas de mudança de partido.
Nuno “Amélia” Gomes, o grande falhador de golos (por oposição a “marcador”), dispensa apresentações.
E sobre Calado, bom, é melhor remetermo-nos ao silêncio.
Depois, o infeliz Rojas, no sítio errado à hora errada, parece um caso típico de quem se equivocou nas companhias e acabou num bar só com homens, procurando esquivar-se daquela barreira enquanto é tempo. Aliás, erros eram mesmo com Rojas.

Eles podiam não ser futebolistas de grande calibre – Machairidis até se assustava quando via uma bola a mexer e Nuno Gomes tem enganado muita gente durante toda uma carreira devido à fantástica capacidade de tabelar como se fosse um flipper –, mas nem sempre interessa a técnica ao futebolista, para mais se falarmos no Benfica dos tempos loucos de Vale e Azevedo. Outros valores se devem então erguer. E eles estavam cá todos: a coesão na luta pelos seus direitos, o agarrar firme dos seus tintins, as costas erectas voltadas para os seus postes e a tentativa de, em grupo e com os corpos unidos, impedir que as bolas entrassem no seu reduto.
Lamentavelmente, a mensagem não passou de imediato e estes homens não viram os resultados imediatos do seu combate pela igualdade – para dizer a verdade, eram tempos em que o próprio Benfica mal conseguia chegar à igualdade em termos de placard.
Ânus, perdão, anos passaram e agora sim, imagens como esta são reconhecidas pelo Governo. Honra seja feita aos pioneiros.

Dentro de instantes, não percam a Gala Cromos da Bola 2009.

6 comentários:

Peterofpan disse...

De um clube que suspendeu o Dani porque este acabara de se envolver com 6 moçoilas num hotel, não se esperaria senão protagonismo na causa gay. Ou por que outra razão terá esse mesmo clube escolhido camisolas cor-de-rosa aqui há umas épocas?!?!

Anónimo disse...

Um grande texto para uma foto MÍTICA.
Um acaso do destino, ou um fotógrafo amante da causa do arco-íris?

Em todo o caso, obrigado.

Bibi disse...

Por onde andam os rabetas Fernando Gomes,Carlos Manuel,Lima Pereira?

Chutes too veia disse...

Ninguém fala da festa em casa do Capucho depois da ida do Benfica às Antas nesse ano? O Nuno e o José marcaram presença. O Triantafillos não foi pois continuava em salónica a receber festinhas de um egípcio brinca-na-areia e de um sagaz goleador cujas qualidades convenceram a agremiação lagarta...

Anónimo disse...

Fala-nos dessa festa.
As entradas foram melão com presunto?

Rodrigues disse...

Curiosidade adicional: a soma dos nºs das camisolas de Machairidis, Nuno Gomes e Calado é 69.

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